O mistério celebrado hoje é a conceição do Filho de Deus no seio da Virgem Maria. Na basílica nazaretana da Anunciação, diante do altar, há uma placa de mármore que os peregrinos beijam com emoção e onde está escrito: “Aqui de Maria Virgem fez-se carne o Verbo”.

No texto da Carta aos Hebreus, o hagiógrafo refere ou interpreta a anunciação de Cristo; no texto de Lucas, o evangelista narra a anunciação a Maria. Cristo toma a iniciativa de declarar aquilo que Ele mesmo compreende; Maria recebe uma palavra que vem de fora de si mesma, uma palavra cheia de propostas de um Outro. O paralelismo transforma-se em coincidência na explicitação da disponibilidade de ambos para fazerem a vontade divina; é uma disponibilidade separada por qualidade e quantidade de consciência, mas que converge na finalidade de obediência total ao projeto de Deus: Ecce venio, ecce ancilla, eis-me aqui! Eis a serva!

A atitude de obediência irá aproximar a mãe e o filho, Maria “anunciada” e Jesus Cristo “anunciado”. Ambos pronunciam o seu «Eis-me aqui!». Ambos se exprimem com voz quase idêntica: «faça-se em mim segundo a tua palavra», «Eis que venho para fazer, ó Deus, a tua vontade». Ambos entram na fisionomia de «serva» e de «servo» do Senhor. Esta sintonia encoraja os discípulos à disponibilidade para servir a palavra de Deus, porque o próprio Filho de Deus é servo e porque a Mãe de Deus é serva; ambos são servos de uma palavra que salva quem a serve e que traz salvação.

Os Sacerdotes do Coração de Jesus são chamados a viver a espiritualidade oblativa, a fazerem da sua vida e obras uma oferta de amor que se concretiza, em primeiro lugar, na disponibilidade para cumprir a vontade de Deus, mesmo quando ela exige renúncia, sacrifício. Unem-se à oblação perfeita de Cristo ao Pai com o sacrifício das suas vidas, “como oblação viva, santa e agradável a Deus” (cf. Rom 12, 1), a realizar-se na contemplação e no apostolado (cf. Cst nn. 24 e 58).
Esta espiritualidade oblativa é bem expressa, segundo o P. Dehon, pelo “Ecce venio” (Eis-me aqui!) (Heb 10, 7): “Nestas palavras: Ecce venio,.. Ecce ancilla…, encerram-se toda a nossa vocação, a nossa finalidade, o nosso dever, as nossas promessas” (Dir. Esp. I. 3).” (Cst. n. 6; cf. Cst nn. 53.58.85).

Sacerdotes do Coração de Jesus – Dehonianos – Portugal
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